O amor do Pai se manifesta de forma concreta e suprema na pessoa e na obra de Jesus Cristo. Esse amor não é apenas um sentimento abstrato, mas um amor que age, que se doa, que se entrega. A prova maior disso está em João 3:16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito”. Em Cristo, o Pai não apenas falou sobre o amor, mas o revelou em carne e o demonstrou na cruz, quando entregou o Filho em favor de pecadores. O apóstolo Paulo afirma em Romanos 5:8 que “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. Assim, Jesus é a face visível do amor e do caráter do Pai, como Ele mesmo declarou: “Quem me vê a mim, vê o Pai” (João 14:9).
O título “Filho Unigênito”, tão central na fé cristã, aponta para a singularidade de Jesus. Quando João afirma que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória como a do unigênito do Pai” (João 1:14), não se trata de mera filiação biológica, mas da realidade espiritual expressa no termo grego Monogenês, que significa “único em essência”. Nós podemos ser chamados filhos de Deus por adoção, mas Jesus é Filho por natureza, consubstancial ao Pai, eterno, não criado. Por isso a Igreja sempre declarou que Ele é gerado, mas não criado.
Quando Paulo afirma em Colossenses 1:15 que Jesus é “o primogênito de toda a criação”, não está dizendo que Ele foi criado em algum momento, mas que Ele ocupa a posição de supremacia e autoridade sobre todas as coisas. Israel foi chamado de “filho primogênito” em Êxodo 4:22 sem ser o primeiro povo criado. Davi foi chamado de primogênito em Salmo 89:27, embora não fosse o primeiro filho de Jessé. Assim, o termo “primogênito” aponta para posição de honra e soberania. O próprio contexto confirma isso: “Pois nEle foram criadas todas as coisas nos céus e na terra... tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas e nEle tudo subsiste” (Colossenses 1:16-17). Se todas as coisas foram criadas por meio dEle, Ele não pode ser criatura, mas o Criador eterno.
Essa distinção entre “gerado” e “criado” foi uma das grandes controvérsias dos primeiros séculos da Igreja. Ário, presbítero de Alexandria, afirmava que houve um tempo em que o Filho não existia e, portanto, Jesus teria sido criado pelo Pai. Essa heresia, conhecida como arianismo, foi combatida no Concílio de Niceia, em 325 d.C., onde a Igreja declarou solenemente que Jesus é “Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”. Essa fórmula reafirmava a eternidade do Filho e sua igualdade plena com o Pai. A doutrina da geração eterna do Filho, desenvolvida por pais da Igreja como Atanásio, Basílio, Gregório de Nazianzo e Agostinho, ensina que o Pai é eternamente Pai e o Filho é eternamente Filho. Não existe um antes ou um depois na relação intratrinitária. Essa geração não é temporal, mas eterna, expressão da unidade perfeita do Pai e do Filho.
Apesar da condenação oficial do arianismo, suas ideias continuam ecoando até hoje em grupos que negam a plena divindade de Cristo. As Testemunhas de Jeová, por exemplo, ensinam que Jesus foi a primeira criatura de Jeová, identificado com o arcanjo Miguel, e traduzem João 1:1 como “o Verbo era um deus”. Cristadelfianos e unitarianos também rejeitam a Trindade e a eternidade do Filho. No entanto, a fé cristã histórica — católicos, ortodoxos, protestantes e pentecostais — confessa unidamente que Jesus é o Filho eterno, gerado e não criado, consubstancial ao Pai, digno de adoração e Senhor de toda a criação.
Essa verdade se confirma também quando analisamos a vontade e as obras do Filho. Jesus declarou: “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma... porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou” (João 5:30). Essa afirmação não indica conflito, mas submissão voluntária. Na encarnação, o Filho assumiu a forma de servo e viveu em perfeita obediência. Mas, em essência divina, Pai e Filho compartilham a mesma vontade, pois “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). A unidade não é apenas de propósito, mas de natureza. As obras de Cristo foram as obras do Pai: milagres, ensinos, cruz e ressurreição. Tudo foi expressão do amor divino e da missão que o Pai lhe confiou.
Assim, o Filho revela plenamente o Pai. João afirma: “Ninguém jamais viu a Deus; o Filho unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (João 1:18). O autor de Hebreus declara que o Filho é “o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hebreus 1:3). Ver Jesus é ver o Pai. Sua encarnação, suas palavras, seus milagres e, sobretudo, sua entrega na cruz, tornam o Pai conhecido de forma visível e acessível. Ele não é apenas um mensageiro que fala sobre Deus, mas a revelação definitiva de quem Deus é.
A Bíblia também deixa claro que o Filho possui todos os atributos divinos. Ele é eterno, como afirma João 1:1: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Ele é onipotente, demonstrando poder sobre a natureza, sobre as enfermidades, sobre a morte e sobre o reino das trevas. É onipresente, prometendo estar com os discípulos até a consumação dos séculos (Mateus 28:20) e sustentando todas as coisas pelo poder da sua palavra (Colossenses 1:17). É onisciente, conhecendo pensamentos, corações e futuros, como no caso da mulher samaritana ou da negação de Pedro. Esses atributos, exclusivos de Deus, encontram-se plenamente em Cristo, confirmando sua divindade.
Portanto, afirmar que o amor do Pai se revela no Filho é reconhecer que Jesus é a expressão visível do Deus invisível. Nele o Pai se deu a conhecer, não como conceito distante, mas como realidade viva e próxima. O amor que se entregou na cruz não é apenas uma ideia, mas o próprio Deus reconciliando consigo o mundo em Cristo. Confessar que Jesus é o Filho unigênito, eterno e consubstancial ao Pai, é abraçar a fé cristã em sua essência e receber o amor eterno que salva, transforma e sustenta
Aspecto | Criado | Gerado (Jesus Cristo) |
---|---|---|
Origem | Tem um começo no tempo | Sem começo: geração eterna |
Essência | Diferente de Deus | Mesma essência do Pai (consubstancial) |
Natureza | Criatura | Deus verdadeiro |
Atos | Feito do nada, por vontade divina | Procede eternamente do Pai |
Exemplo bíblico | Céus, terra, seres criados (Gn 1; Cl 1:16) | “O Filho unigênito, que está no seio do Pai” (Jo 1:18) |
Declaração da Igreja | Não se aplica a Cristo | “Gerado, não criado, Deus de Deus, Luz de Luz” (Credo de Niceia) |
Por Pr. Walker H Souza – proclamando a verdade da Palavra que transforma o entendimento.