Dízimos, Ofertas e Votos: Fundamentos Bíblicos, Teológicos e Pastorais
1. Definição e Natureza
O dízimo — do hebraico ma‘ăśēr — significa literalmente “a décima parte” e, biblicamente, é a devolução ao Senhor de 10% de tudo o que recebemos, seja em forma de dinheiro, produtos ou bens (Lv 27.30-32; Ml 3.10). No Antigo Testamento, o dízimo era um ato de obediência e adoração, reconhecendo que “ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela há” (Sl 24.1).
A oferta — do hebraico mincḥah — é contribuição voluntária, expressão de generosidade que vai além do dízimo, podendo atender causas específicas (Êx 25.1-2).
- Outros usos:
- "oferta pacífica" (zevah haselamiym) ou termos relacionados a sacrifícios específicos.
O voto — promessa solene feita a Deus, que envolve compromisso e fidelidade (Ec 5.4-5), e, quando vinculado a ofertas, demonstra amor e dedicação profunda ao Senhor.
“O dízimo não é um presente que damos a Deus, mas a devolução de uma parte do que já é d’Ele. A oferta é o transbordar do nosso amor. O voto é a aliança pessoal com o Senhor.”
Adaptado de Agostinho de Hipona
2. Propósitos no Antigo e no Novo Testamento
No Antigo Testamento, o dízimo tinha três finalidades principais:
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Sustento dos levitas e sacerdotes (Nm 18.21,28);
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Manutenção do culto e refeições sagradas (Dt 14.22-27);
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Ajuda social a pobres, órfãos e viúvas (Dt 14.28-29).
No Novo Testamento, o princípio permanece, mas com foco na promoção do Reino de Deus e ajuda aos necessitados (1 Co 9.9-14; Cl 2.10). Paulo reforça: “Cada um contribua segundo propôs no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7).
“Deus não olha para o que damos, mas para o coração com que damos.”
— João Crisóstomo
3. Princípios Fundamentais
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Reconhecimento da Soberania de Deus
Dízimos e ofertas proclamam que tudo vem de Deus e pertence a Ele (Ag 2.8; Cl 1.17). Abraão, ao encontrar Melquisedeque, respondeu à bênção recebida com o dízimo (Gn 14.20), reconhecendo o senhorio divino. -
Cuidado com o Próximo
O dízimo comunitário, dado a cada três anos, atendia aos necessitados (Dt 14.28-29), reforçando que prosperidade sem misericórdia é estéril. -
Continuidade do Princípio
O dízimo antecede a Lei de Moisés (Gn 14.18-22; 28.22) e é confirmado por Jesus (Mt 23.23) e pelos apóstolos (1 Co 9.13-14).
Como ensina Calvino:“O dízimo é parte da adoração; sua abolição, sob pretexto de liberdade cristã, é roubar a Deus.”
4. Dízimo como Adoração e Mordomia Cristã
Dízimos e ofertas são expressão prática de adoração e mordomia fiel:
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Honramos a Deus (Pv 3.9-10);
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Demonstramos alegria (2 Co 9.7);
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Exercitamos generosidade voluntária (Êx 25.1-2);
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Sustentamos a obra e a missão da Igreja (Nm 18.21; 1 Co 16.2).
O dízimo não é barganha nem investimento, mas ato de amor e gratidão. Richard Baxter lembra:
“Aquele que dá esperando receber mais de volta não é adorador, mas negociante com Deus.”
5. Correções às Distorções Contemporâneas
A Teologia da Prosperidade deturpa o dízimo ao transformá-lo em moeda de troca. Jesus condenou a prática mecânica sem justiça, misericórdia e fé (Mt 23.23).
Precisamos evitar:
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Dar por medo ou superstição;
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Administrar o dízimo por conta própria (“Trazei todos os dízimos à Casa do Tesouro” — Ml 3.10);
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Substituir o dízimo por ofertas menores;
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Usá-lo como autopromoção.
6. Dimensões do Dízimo segundo a Tradição Cristã
O pastor José Gonçalves aponta quatro dimensões:
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Religiosa — manutenção do culto e dos obreiros;
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Social — assistência aos necessitados;
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Missionária — expansão do evangelho;
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Patrimonial — preservação e ampliação das estruturas da igreja.
Ireneu de Lião (século II) já defendia que o cristão deveria dar mais do que o dízimo, pois agora vivemos na plenitude da graça:
“Se sob a Lei davam o dízimo, quanto mais nós, que recebemos graça sobre graça, devemos dar liberalmente para toda boa obra.”
7. Conclusão Pastoral
O dízimo é um princípio eterno, a oferta é um ato voluntário de amor, e o voto é aliança de fidelidade. Quando os praticamos:
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Reconhecemos Deus como fonte e dono de tudo;
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Exercitamos generosidade e cuidado com o próximo;
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Sustentamos a obra missionária e social da Igreja;
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Cultivamos gratidão e desprendimento.
Assim, dizimar, ofertar e cumprir votos não é perda, mas investimento eterno. Como disse Charles Spurgeon:
“Eu nunca conheci alguém que fosse fiel a Deus em suas contribuições e empobrecesse por isso. Mas já vi muitos se enriquecerem espiritualmente ao darem.”
Por Pr. Walker Henrique de Souza – proclamando a verdade da Palavra que transforma o entendimento.