livro Genealogia do Conhecimento

sábado, 13 de abril de 2013

A História da Assembléia de Deus no Brasil

                                                                                                                                                                             A História da Assembléia de Deus no Brasil

    “[...] Pouco tempo depois de Gunnar Vingren participar de uma convenção de igrejas batistas em Chicago, essas igrejas que aceitavam o Movimento Pentecostal, ele conheceu outro jovem sueco que se chamava Daniel Berg. Esse jovem também fora batizado com o Espírito Santo.
    Após uma ampla troca de informações, experiências e idéias, Daniel Berg e Gunnar Vingren descobriram que Deus os estavam guiando numa mesma direção, isto é, o Senhor desejava enviá-los com a mensagem do Evangelho à terras distantes, mas nenhum dos dois sabia exatamente para onde seriam enviados.


    Algum tempo depois, Daniel Berg foi visitar o pastor Vingren em South Bend, Indiana (EUA). Durante aquela visita, quando participavam de uma reunião de oração, o Senhor lhes falou através de uma mensagem profética que eles deveriam partir para pregar o Evangelho e as bênçãos do Avivamento   Pentecostal. O lugar tinha sido mencionado na profecia: Pará. Nenhum dos presentes conhecia aquela localidade. Após a oração, os dois jovens foram a uma biblioteca à procura de um mapa que lhes indicasse onde o Pará estava localizado. Foi quando descobriram que se tratava de um estado do norte do Brasil”. (Adaptado de “História das Assembléias de Deus, Emílio Conde – CPAD”).

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Daniel Berg e Gunnar Vingren: missionários suecos fundadores da Assembléia de Deus no Brasil


Primeiro templo da
Assembléia de Deus no Brasil
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    No início do século XX, apesar da presença de imigrantes alemães e suíços de origem protestante e do valoroso trabalho de missionários de igrejas evangélicas tradicionais, nosso país era ainda quase que totalmente católico.
    A origem das Assembléias de Deus no Brasil está no fogo do reavivamento que varreu o mundo por volta de 1900, início do século XX, especialmente na América do Norte.
    Os participantes deste reavivamento foram cheios do Espírito Santo da mesma forma que os discípulos e os seguidores de Jesus durante a festa Judaica do Pentecostes, no início da Igreja Primitiva (Atos 2). Assim, eles foram chamados de “pentecostais”.
    Exatamente como os crentes que estavam no Cenáculo, os precursores do reavivamento do século 20 falaram em outras línguas, que não as suas originais, quando receberam o batismo no Espírito Santo. Outras manifestações sobrenaturais, tais como profecia, interpretação de línguas, conversões e curas, também aconteceram.
    Quando Daniel Berg e Gunnar Vingren chegaram a Belém do Pará, em 19 de novembro de 1910, ninguém poderia imaginar que aqueles dois jovens suecos estavam para iniciar um movimento que alteraria profundamente o perfil religioso, e até social, do Brasil por meio da pregação de Jesus Cristo como o único e suficiente Salvador da humanidade e a atualidade do Batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais. As igrejas existentes na época – Batista de Belém do Pará, Presbiteriana, Anglicana e Metodista – ficaram bastante incomodadas com a nova doutrina dos missionários, principalmente por causa de alguns irmãos que se mostravam abertos ao ensino pentecostal. A irmã Celina de Albuquerque, na madrugada do dia 18 de junho de 1911, foi a primeira crente a receber o batismo no Espírito Santo, o que não demorou a ocorrer também com outros irmãos.


Segundo templo da
Assembléia de Deus no Brasil
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    O clima ficou tenso naquela comunidade, pois um número cada vez maior de membros curiosos visitava a residência de Berg e Vingren, onde realizavam reuniões de oração. Resultado: eles e mais dezenove irmãos acabaram sendo desligados da Igreja Batista. Convictos e resolvidos a se organizar, fundaram a Missão de Fé Apostólica em 18 de junho de 1911, que mais tarde, em 1918, ficou conhecida como Assembléia de Deus.

    Em poucas décadas, a Assembléia de Deus, a partir de Belém do Pará, onde nasceu, começou a penetrar em todas as vilas e cidades até alcançar os grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.
    Em virtude de seu fenomenal crescimento, os pentecostais começaram a fazer diferença no cenário religioso brasileiro. De repente, o clero católico despertou para uma possibilidade jamais imaginada: o Brasil poderia vir a tornar-se, no futuro, uma nação protestante.

Fonte: CPAD - Casa Publicadora das Assembléias de Deus (www.cpad.com.br)
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Daniel Berg e Família

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Gunnar Vingren e Família

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Cristão e o Natal

🎄 O VERDADEIRO NATAL: Entre o Cristo das Escrituras e o Sol Invicto do Império

📖 Texto Base:

João 1:9-14
"A verdadeira luz, que ilumina a todos, estava chegando ao mundo... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós..."


1. 📜 O CONTEXTO HISTÓRICO DO NATAL

25 de dezembro não foi a data do nascimento de Jesus, mas a cristianização de uma festividade pagã.

  • No Império Romano, o dia 25 de dezembro era consagrado ao “Natalis Solis Invicti” — nascimento do “Sol Invencível”, que representava o deus Mitra.

  • Mitra nasceu de uma virgem, em uma gruta, foi visitado por magos e celebrava-se sua chegada como "salvador da humanidade".

  • Aureliano, imperador romano, instituiu o culto oficial do Sol Invicto em 273 d.C.

  • Constantino (317–337 d.C), o primeiro imperador romano dito cristão, oficializou o cristianismo e adaptou as festividades do solstício de inverno para celebrar o nascimento de Jesus — um ato de sincretismo.

📚 "A Igreja procurou substituir as festas pagãs por festas cristãs para facilitar a conversão dos povos." (Justino Mártir, séc. II)


2. ☀️ MITRA E O CRISTO "SOLAR": UM SINCRETISMO ESTRUTURADO

  • O culto de Mitra, Apolo, Ra e Baal era comum no império e associava o deus-sol à vida, vitória e renascimento.

  • A estrela de Belém, segundo astrônomos cristãos como Johannes Kepler, pode ter sido a conjunção de Júpiter e Saturno em 7 a.C.

  • Jesus é chamado de “Sol da Justiça” (Malaquias 4:2), mas no contexto bíblico, Ele é o cumprimento das profecias messiânicas, não o substituto de deuses solares.

📖 "Eu sou a luz do mundo; quem me segue, nunca andará em trevas." (João 8:12)

🎓 Carl Jung (psicanalista) identificou arquétipos coletivos como o do herói solar: um salvador que vence as trevas. Segundo ele, o inconsciente coletivo moldou símbolos religiosos universais.


3. 👑 A COROAÇÃO DE CARLOS MAGNO E O NATAL POLITIZADO

  • Em 25 de dezembro de 800 d.C., Carlos Magno foi coroado imperador pelo Papa Leão III, consolidando o vínculo entre poder político e celebração religiosa.

  • A celebração do nascimento de Jesus tornou-se também ato político e imperial, reforçando a autoridade da Igreja sobre o Estado.


4. 👩‍👦 CULTO À MÃE VIRGEM: DE ÍSIS A MARIA

  • Ísis no Egito, Cibele na Frígia, Astarote na Babilônia, todas eram “mães virgens” que davam à luz um deus-menino.

  • Maria foi “paganizada” com imagens e rituais inspirados nesses cultos.

📖 "A virgem conceberá e dará à luz um filho..." (Isaías 7:14 / Mateus 1:23)

🧠 "O arquétipo da Mãe, seja como Ísis ou Maria, representa o inconsciente coletivo da proteção e da fertilidade." (Carl Jung, Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo)


5. 🛐 A RELIGIÃO DO IMPÉRIO: DA PERSEGUIÇÃO À PERSEGUIÇÃO

  • O cristianismo primitivo foi perseguido, mas com Constantino, torna-se religião do império.

  • A Igreja passa a perseguir os que não se adequam à nova ortodoxia: pagãos, gnósticos e hereges.

  • Estabelece-se uma “nova ordem espiritual”, mas com velhos fundamentos mitológicos.

📖 "O meu reino não é deste mundo." (João 18:36)
✍️ "A verdade não pode ser imposta por decreto, mas crida por convicção." (Tertuliano, séc. III)


6. 🎅 O NASCIMENTO DE PAPAI NOEL

  • São Nicolau de Mira, bispo do século IV conhecido por caridade e milagres, é a base histórica.

  • Na Idade Média, tornou-se padroeiro das crianças.

  • Com a Coca-Cola em 1931, sua imagem foi remodelada para a figura comercial do "bom velhinho".

📚 “O espírito do Natal foi deslocado de Cristo para o consumo.” (Francis Schaeffer, teólogo cristão)


7. 🧠 O ARQUÉTIPO DO HERÓI: JESUS OU MITO?

  • Toda cultura projeta heróis: nascidos de forma milagrosa, perseguidos na infância, sacrificados e ressuscitados.

  • Jesus não é apenas um mito solar, mas a Palavra eterna encarnada (João 1:14), que viveu, morreu e ressuscitou de fato (1 Coríntios 15).

📖 "Porque vos nasceu hoje, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor." (Lucas 2:11)
✍️ "O Logos se fez carne — isso não é mito, é escândalo." (Dietrich Bonhoeffer)


8. 🛑 NATAL OU CONSUMISMO?

  • A festividade de Jesus foi substituída por presentes, consumo e glamour.

  • O verdadeiro Natal celebra a Encarnação do Verbo, a vinda do Salvador.

📖 "Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens a quem Ele quer bem." (Lucas 2:14)

🧠 “Vivemos sob o império do desejo e não da fé. Precisamos resgatar o sentido da Encarnação.” (Paul Tillich)


✅ CONCLUSÃO TEOLÓGICA E PASTORAL

  • Não é errado celebrar o nascimento de Cristo, mas devemos discernir os elementos que se infiltraram no culto e que distorcem a centralidade de Cristo.

  • Jesus não é um arquétipo, mas o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

  • O Natal deve ser uma celebração bíblica, cristocêntrica, evangelizadora e santa.

📖 "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente..." (Romanos 12:2)


🗣️ SUGESTÃO DE APLICAÇÃO PARA A IGREJA:

  • Celebre o Natal com culto centrado na Encarnação (João 1:14).

  • Reforce a importância da humildade de Cristo (Filipenses 2:5-11).

  • Use o Natal para evangelizar — a Verdadeira Luz veio ao mundo!



🎄 COMO O NATAL É VISTO PELOS PAIS DA IGREJA E TEÓLOGOS CONTEMPORÂNEOS


1. 📜 OS PAIS DA IGREJA E O NATAL: ENCARNAÇÃO, MISTÉRIO E ORTODOXIA

Nos primeiros séculos, a festa do Natal não era amplamente celebrada. O foco maior estava na Páscoa e na ressurreição de Cristo, considerados eventos fundacionais da fé cristã. Porém, com o tempo, o mistério da Encarnação ganhou relevância teológica, principalmente como defesa da doutrina ortodoxa contra heresias gnósticas e docetistas.

✍️ Justino Mártir (100–165 d.C.)

Embora não mencione uma data de nascimento, defende que Jesus é o Logos encarnado, pré-existente, vindo ao mundo em cumprimento das profecias messiânicas (cf. Apologia, I, 46).

"Cristo nasceu como homem para nossa salvação, conforme anunciavam as Escrituras."

✍️ Irineu de Lião (130–202 d.C.)

Destaca a recapitulação em Cristo: Ele assumiu nossa natureza desde o ventre da virgem até a cruz, redimindo todas as etapas da existência humana (Adversus Haereses, III, 22,4).

"Ele se fez o que somos, para que pudéssemos nos tornar o que Ele é."

✍️ Orígenes (185–253 d.C.)

Embora cético quanto à celebração do nascimento físico, exalta o nascimento espiritual de Cristo no coração do crente (cf. Homilias sobre o Evangelho de Lucas).

✍️ João Crisóstomo (347–407 d.C.)

Foi um dos primeiros a defender publicamente a celebração litúrgica do 25 de dezembro como data do nascimento de Cristo.

"Oh dia bendito em que Deus Se fez homem, para que o homem fosse restaurado em Deus!"
(Homilia sobre o Natal)

✍️ Agostinho de Hipona (354–430 d.C.)

Comenta que Cristo se humilhou ao nascer em carne, para nos exaltar à glória eterna.

"Ele nasceu temporalmente para que renascêssemos espiritualmente."
(Sermão 190, sobre o Natal)


2. 🧠 TEÓLOGOS CONTEMPORÂNEOS: ENTRE A CRISTOLOGIA E A CRÍTICA CULTURAL

Teólogos modernos recuperam o Natal como expressão da doutrina da Encarnação, mas também denunciam o sincretismo e o consumismo secular que tomou conta da festa cristã.

🕊️ Karl Barth (1886–1968)

Enfatiza a auto-revelação de Deus em Jesus Cristo. Para ele, o Natal é a boa nova de que Deus se aproximou dos homens, não por mérito, mas por graça soberana.

"O mistério do Natal é que Deus se fez um de nós, não como um símbolo, mas como verdade absoluta."
(Church Dogmatics, IV)

🔥 Dietrich Bonhoeffer (1906–1945)

Critica a superficialidade dos costumes natalinos. Para ele, o Natal é um escândalo da humildade divina, não um evento estético.

"Quem celebra o Natal sem confrontar-se com a cruz, celebra apenas a si mesmo."
(Sermões de Advento e Natal)

✍️ Paul Tillich (1886–1965)

Considera o Natal a revelação existencial de que o eterno invade o tempo, rompendo o desespero humano com esperança viva.

"No Cristo nascido, a eternidade entrou na história."
(The Shaking of the Foundations)

💡 C.S. Lewis (1898–1963)

Diz que o Natal cristão é a invasão do verdadeiro Rei em território inimigo, um evento radicalmente subversivo ao mundo naturalista e pagão.

"O Filho de Deus se fez homem para que os homens se tornassem filhos de Deus."

💥 N.T. Wright (atual)

Alerta que o Natal não é sobre sentimentalismo, mas sobre a chegada do Reino de Deus em Cristo.

"O nascimento de Jesus é o início de uma revolução: Deus tornou-se rei em forma humana."
(Simply Jesus, 2011)


3. ⚔️ CRÍTICAS AO NATAL MODERNO: DO CONSUMO À CELEBRAÇÃO MÍTICA

🛍️ Walter Brueggemann (teólogo e biblista)

Critica o consumismo litúrgico moderno, onde o Natal foi capturado por interesses de mercado.

"Estamos celebrando o nascimento de um Salvador com os mesmos valores que o crucificaram."

🧠 Carl Gustav Jung (psicanalista)

Sem ser teólogo, Jung fala dos arquétipos do “Filho Divino”, que aparecem em todas as culturas. Embora não negue a espiritualidade do Natal, aponta o risco de reduzi-lo a um mito psicológico universal.

"O arquétipo do herói salvador fala da necessidade humana por redenção — o Cristo histórico responde a isso de modo singular."


4. 📚 CONSIDERAÇÕES TEOLÓGICAS E PASTORAIS

PerspectivaÊnfase Principal
PatrísticaDefesa da Encarnação contra heresias, exaltação do mistério de Deus feito homem
ReformadoresNatal é ocasião de recordar a Graça, não rituais pagãos (Lutero, Calvino)
ContemporâneosCrítica ao consumo, ênfase na encarnação redentora e na justiça do Reino

🛐 APLICAÇÃO PASTORAL

  • Ensinar a igreja a discernir entre o Natal bíblico e o Natal cultural.

  • Celebrar com adoração, gratidão e proclamação do Evangelho.

  • Resgatar o significado cristológico e missionário do nascimento de Cristo.


📖 CONCLUSÃO:

O Natal verdadeiro é o mistério da graça encarnada, Deus assumindo nossa condição para redimir-nos de dentro para fora. Celebrar o Natal com consciência bíblica é proclamar:

"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade..." (João 1:14)


Por Pr. Walker Henrique de Souza – proclamando a verdade da Palavra que transforma o entendimento. 

domingo, 25 de novembro de 2012

Serie 2 “Pedro, primeiro Papa? Claro que não!”

Pedro, o Primeiro Papa? Claro que Não!

Uma análise teológica, bíblica e histórica sobre o papado romano

“A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus” (Mt 23.9).

1. Definições iniciais: Papa, Papado, Pontífice e Vaticano

Neste capítulo, é necessário começar esclarecendo alguns termos importantes:

  • Papa: do grego pappas (παππᾶς) e do latim papa, significa “pai”. No Catolicismo Romano, designa o bispo de Roma e líder supremo da Igreja.

  • Papado: refere-se ao sistema eclesiástico em que o Papa é o chefe supremo da Igreja.

  • Papal: adjetivo relacionado ao Papa.

  • Pontífice: outro título atribuído ao Papa, derivado de “Pontifex Maximus”, um título romano pagão.

  • Vaticano: sede do poder papal, uma cidade-estado independente no coração de Roma.


2. A Reivindicação Católica: Pedro, o Primeiro Papa

O Catecismo de Baltimore, edição da Confraternity, afirma:

  • Q.147: “Cristo deu um poder especial a São Pedro, fazendo-o cabeça dos apóstolos e o principal mestre e administrador da Igreja”.

  • Q.148: “Esse poder foi transmitido aos seus sucessores, o Papa, o Bispo de Roma”.

  • Q.159: “O supremo poder de Pedro passou por uma linha ininterrupta de sucessores”.

No entanto, a Bíblia não ensina que Pedro foi o primeiro Papa, nem que ele tenha exercido autoridade suprema sobre os demais apóstolos. Tampouco há evidência bíblica de que Pedro tenha estado em Roma.


3. O que a Escritura diz sobre Pedro

Jesus corrigiu seus discípulos por buscarem autoridade uns sobre os outros:

“...Quem quiser tornar-se grande entre vós, seja vosso servo” (Mt 20.25-27).

Pedro foi publicamente repreendido por Paulo em Antioquia:

“Quando Pedro veio à Antioquia, resisti-lhe face a face, porque era repreensível” (Gl 2.11).

Em sua própria carta, Pedro não reivindica nenhuma supremacia:

“Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles...” (1Pe 5.1).
“...nem como dominadores dos que vos foram confiados...” (1Pe 5.3).
“...ao Pastor e Bispo das vossas almas” (1Pe 2.25).

Quando Cornélio se prostrou diante de Pedro, ele o impediu:

“Levanta-te, que eu também sou homem” (At 10.25-26).


4. Pedro esteve em Roma? Evidências bíblicas e silêncio eloquente

  • Pedro nunca menciona Roma em suas epístolas. Em 1Pedro 5.13, cita "Babilônia", que muitos católicos interpretam como referência simbólica a Roma. Contudo, a linguagem de Pedro é literal e direta, ao contrário da linguagem apocalíptica de João no Apocalipse (Ap 17.5).

  • Quando Paulo escreveu à igreja de Roma (Rm 1.11; Rm 16.3-16), não mencionou Pedro — o que seria estranho, caso ele estivesse lá como seu bispo.

  • Em Atos dos Apóstolos, Pedro é ativo em Jerusalém, Samaria, Jope e Antioquia — não há nenhuma menção de sua presença em Roma. O autor de Atos, Lucas, ignora qualquer relação de Pedro com Roma.


5. O Concílio de Jerusalém e a liderança de Tiago

Em Atos 15, o Concílio da Igreja foi presidido por Tiago, não por Pedro (At 15.13-21). Pedro participou, mas não dirigiu nem concluiu os debates. Além disso, em At 8.14, Pedro foi enviado pelos apóstolos — e não o contrário.


6. O Papado: Uma construção histórica posterior

A maioria dos historiadores não católicos identifica Gregório I (Gregório Magno), que reinou de 590 a 604 d.C., como o primeiro Papa com autoridade universal. Isso se deu seis séculos após Pedro.

A Enciclopédia Católica e o historiador católico John Wycliffe atestam que o papado, como o conhecemos, é uma construção eclesiástica pós-apostólica, sem base direta no Novo Testamento.


7. O Papa como "Vicário de Cristo"?

O Catecismo de Nova York afirma que o Papa é o “representante de Cristo” e o “cabeça da Igreja”. João XXIII disse em 1958 que ninguém pode se salvar sem estar unido ao Papa.

Contudo, a Bíblia afirma que o verdadeiro Vicário de Cristo é o Espírito Santo:

“Mas o Consolador, o Espírito Santo... vos ensinará todas as coisas” (Jo 14.26).

O Papa não é necessário, pois o próprio Cristo prometeu que o Espírito estaria com a Igreja “todos os dias” (Mt 28.20).


8. Infalibilidade Papal? Uma doutrina insustentável

A infalibilidade papal foi proclamada no Concílio Vaticano I (1870). Mas Pedro foi tudo, menos infalível:

  • Repreendido por Jesus (Mt 16.22-23).

  • Negou Cristo três vezes (Mt 26.69-75).

  • Repreendido por Paulo por hipocrisia (Gl 2.11-14).

Além disso, houve divisões papais históricas, como o Grande Cisma do Ocidente (1378–1417), quando três papas rivais se excomungavam mutuamente. Qual deles era infalível?


9. O Papa é cabeça da Igreja? Não!

Cristo é o único cabeça da Igreja:

“...Cristo é a cabeça da Igreja...” (Ef 5.23).
“...e o constituiu como cabeça da Igreja...” (Ef 1.22-23).
“Ele é a cabeça do corpo, da Igreja... para que em tudo tenha preeminência” (Cl 1.18).


10. O papado em contraste com Cristo

CRISTOO PAPA
Usou coroa de espinhos (Mt 27.29)Usa coroa de ouro e joias
Lavou os pés dos discípulos (Jo 13.5)Recebe genuflexões e beijos nos pés
Disse: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18.36)Reivindica autoridade sobre reis e nações
Foi pobre e humilde (Lc 9.58)Vive no luxo e riqueza material
Disse: “Não chameis ninguém na terra de pai” (Mt 23.9)Requer o título de “Santo Padre”

11. Conclusão pastoral e teológica

Toda a doutrina papal — infalibilidade, sucessão apostólica, vicariato de Cristo — é sem respaldo bíblico. Ela repousa sobre tradição humana e poder eclesiástico, não sobre o Evangelho.

O verdadeiro fundamento da Igreja é Cristo, não Pedro:

“Porque ninguém pode lançar outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11).

A Confissão Batista da Filadélfia (1743) declara:

“O Senhor Jesus Cristo é o único cabeça da Igreja... O Papa de Roma não é, de forma alguma, o cabeça da Igreja, mas é o anticristo, o homem do pecado, o filho da perdição...”.

A coroa tripla do Papa — símbolo de autoridade sobre céu, terra e inferno — se assemelha mais à tentação do diabo:

“Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares” (Mt 4.9).
“Então Jesus lhe disse: Vai-te, Satanás!” (Mt 4.10).

Somente a Escritura é infalível (2Tm 3.16). Somente o Espírito Santo é o intérprete perfeito (Jo 16.13). Somente Cristo é o cabeça da Igreja (Ef 1.22). Qualquer sistema que coloque um homem no lugar de Cristo é usurpador e anticristão.

“À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, jamais verão a alva” (Is 8.20).


Siga parte 1 https://verdadescrista.blogspot.com/2025/07/serie-o-papado-em-xeque-historia-que-o.html

Referências

  • Bíblia Sagrada, ARA e ARC

  • Catecismo de Baltimore e de Nova York

  • Enciclopédia Britânica, verbetes sobre Alexandre VI e o papado

  • Batistas e Suas Doutrinas, B. H. Carroll

  • Confissão Batista de Filadélfia, 1743


AMOR FRATERNAL

O Amor Fraternal: A Evidência da Vida no Espírito

Não há advertência mais profunda e relevante nas Escrituras quanto ao uso dos dons espirituais sem o devido fundamento do amor do que aquela registrada por Paulo aos crentes em Corinto. A igreja de Corinto era espiritualmente vibrante, mas carecia de maturidade emocional e relacional. Paulo reconhece a atuação dos dons entre eles (1Co 1.7), mas chama atenção para o fato de que, sem amor, até mesmo os dons mais extraordinários se tornam vazios de valor eterno (1Co 13.1-3).

O apóstolo afirma, com clareza, que o amor é a "mais excelente" maneira (1Co 12.31), pois ele é o fruto do Espírito que dá sentido a todos os demais dons (Gl 5.22). O amor fraternal, portanto, não é opcional para o cristão — é evidência da sua regeneração, da habitação do Espírito e da nova natureza recebida em Cristo (1Jo 4.7-8).

O amor é nossa responsabilidade mútua

"Disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu tutor de meu irmão?" (Gn 4.9)

Desde o princípio, Deus nos responsabiliza por nossos irmãos. O amor fraternal nos chama à responsabilidade uns pelos outros, combatendo o individualismo e o egoísmo que marcam o mundo caído.

O amor perdoa e acolhe quem nos feriu

"Então, disse: Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito" (Gn 45.4)

José é o exemplo do perdão divino em ação humana. Ele acolhe seus irmãos mesmo após a traição, imagem profética de Cristo que, na cruz, orou: “Pai, perdoa-lhes” (Lc 23.34). O amor não guarda rancor (1Co 13.5).

O amor acolhe o estrangeiro e o diferente

"Como o natural, será entre vós o estrangeiro... amá-lo-eis como a vós mesmos" (Lv 19.34)

O amor fraternal estende-se ao estranho, ao que é diferente de nós. A verdadeira fé é marcada pela hospitalidade, pelo respeito à dignidade humana e pela memória de que fomos forasteiros espirituais antes de sermos acolhidos por Deus (Ef 2.12-13).

O amor é inseparável da comunhão com Deus

"O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade" (Sl 15.2)

A proximidade com Deus exige santidade relacional. Não há permanência na presença de Deus sem retidão no trato com o próximo. Isso inclui evitar fofocas, julgamentos e desprezo (Tg 4.11-12).

O amor perdoa como fomos perdoados

"Pois tu, Senhor, és bom e compassivo; abundante em benignidade para com todos os que te invocam" (Sl 86.5)

Deus nos perdoou abundantemente em Cristo (Cl 2.13). Se fomos perdoados, também devemos perdoar (Ef 4.32), pois o perdão é o caminho da liberdade e da restauração.

O amor cristão ama até os inimigos

"Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem" (Mt 5.44)

Jesus nos chama a transcender a lógica humana do “olho por olho” e a viver o amor como expressão do Reino de Deus, mesmo quando não somos correspondidos. Esse é o amor ágape — sacrificial, voluntário e redentor.

O amor de Deus é incondicional

"Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga" (Lc 6.35)

Amamos não por interesse ou mérito do outro, mas porque o Pai é benigno até com os ingratos e maus. Se queremos ser reconhecidos como filhos do Altíssimo, devemos espelhar Seu caráter.

O amor serve sem buscar reconhecimento

"Se alguém me serve, siga-me... e o Pai o honrará" (Jo 12.26)

O verdadeiro amor tem espírito de servo, desapega-se do status e da autopromoção, e se entrega ao serviço humilde, como fez o Senhor ao lavar os pés dos discípulos (Jo 13.14-15).

O amor fraternal é o mandamento central de Cristo

"O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15.12)

Jesus estabelece o amor como medida da maturidade espiritual. Amar como Ele amou é doar-se, é sofrer junto, é caminhar com o outro até o fim. É morrer para si mesmo em favor do irmão (1Jo 3.16).

O amor fraternal nasce da natureza divina

“Com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor… fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos” (2Pe 1.7-8)

O amor não é apenas um sentimento: é fruto de uma natureza regenerada. Ele nos livra da frieza, da amargura, do orgulho e nos torna produtivos no pleno conhecimento de Cristo.


Conclusão: O amor é o vínculo da perfeição

“Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito” (Cl 3.14)

O amor fraternal é o marco distintivo da Igreja verdadeira (Jo 13.35). Onde há amor, há a presença do Espírito. Onde há indiferença, competição e julgamento, há carência de vida espiritual.

Que o Espírito Santo nos conduza ao crescimento nesse amor — não como um ideal abstrato, mas como uma prática concreta no dia a dia. Que sejamos irmãos de verdade, servos sinceros e testemunhas vivas do amor de Deus.

Pense nisso. Viva isso. Espalhe isso.

“Amemos não de palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade” (1Jo 3.18)

Graça e paz em Cristo.

Por Pr. Walker Henrique de Souza – proclamando a verdade da Palavra que transforma o entendimento.

domingo, 12 de agosto de 2012

Martinho Lutero e as 95 Teses

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Martinho Lutero e as 95 Teses: Um Grito Pela Verdade

No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero fixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg suas 95 teses, desafiando abertamente a teologia e a prática das indulgências promovidas pela Igreja Católica. Esse ato não foi um gesto de rebelião, mas um clamor pastoral por reforma, arrependimento genuíno e fidelidade à Palavra de Deus.

Lutero, profundamente convicto de que "o justo viverá pela fé" (Rm 1.17), denunciou a corrupção espiritual do seu tempo com coragem e firmeza. As teses que você verá a seguir não representam um ataque ao Evangelho, mas uma volta radical a ele — uma convocação à Igreja para abandonar a confiança em obras e méritos humanos e voltar-se unicamente para a graça salvadora de Deus revelada em Cristo.

Para nós, protestantes, estas teses não são apenas um documento histórico: são um testemunho de que a verdade de Deus triunfa sobre as tradições humanas. Que ao ler as teses você seja levado, como Lutero, ao temor de Deus, ao amor pela Sua Palavra e à certeza de que somente pela graça, mediante a fé, somos salvos.

“A Igreja verdadeira é aquela que ouve a voz do seu Pastor.” – Martinho Lutero

ver as teses abaixo

Martinho Lutero

Martinho Lutero



Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Foi criado em Mansfeld. Na sua fase estudantil, foi enviado às escolas de latim de Magdeburg(1497) e Eisenach(1498-1501). Ingressou na Universidade de Erfurt, onde obteve o grau de bacharel em artes (1502) e de mestre em artes (1505).
Seu pai, um aldeão bem sucedido pertencente a classe média, queria que fosse advogado. Tendo iniciado seus estudos, abruptamente, os interrompeu entrando no claustro dos eremitas agostinianos em Erfurt. É um fato estranho na sua vida, segundo seus biógrafos.

Agostinho (354-430)

Agostinho de Hipona (354–430): Um Pai da Igreja à Luz da Fé Protestante

Aurélio Agostinho nasceu em 354 d.C. na cidade de Tagaste, na província romana da Numídia (atual Argélia). Filho de um oficial romano pagão e de Mônica, uma cristã piedosa que orava constantemente por sua conversão, Agostinho seria, com o tempo, uma das figuras mais influentes da história da teologia cristã ocidental. Ainda que a tradição eclesiástica o chame de “Pai da Igreja”, a fé protestante o reconhece não como uma autoridade espiritual infalível, mas como um servo erudito do Reino, cujas contribuições teológicas, especialmente sobre a graça, ajudaram a moldar importantes pilares da Reforma.

Juventude e Conversão

Desde jovem, Agostinho demonstrava brilhantismo intelectual. Estudou em Madaura e em Cartago, onde se dedicou à retórica. Ainda na juventude, uniu-se a uma concubina e teve um filho chamado Adeodato. Buscando respostas para as inquietações da alma, aderiu ao maniqueísmo, filosofia dualista que mais tarde combateria com veemência. Também se envolveu com o ceticismo acadêmico e o neoplatonismo.

Em Milão, conheceu Ambrósio, bispo e pregador eloquente, cuja influência foi decisiva. Em 386, após profunda crise espiritual, converteu-se ao cristianismo ao ler Romanos 13.13-14, em um episódio que ele mesmo relata em sua obra Confissões. Ali começa sua transformação: abandona a vida antiga, separa-se da concubina e dedica-se à busca pela verdade revelada em Cristo.

“Tu nos fizeste para Ti, e o nosso coração não descansará enquanto não repousar em Ti” (Confissões, Livro I).

Ministério e Obras

Após retornar à África, foi ordenado presbítero em 391 e consagrado bispo de Hipona em 395, função que exerceu até sua morte. Em sua vida ministerial, destacou-se como pregador, administrador e escritor prolífico. Escreveu mais de 100 livros, 500 sermões e 200 cartas, combatendo heresias como o maniqueísmo, o donatismo e o pelagianismo — este último foi especialmente decisivo para a compreensão bíblica da depravação humana e da salvação pela graça.

Entre suas obras de maior destaque estão:

  • Confissões – autobiografia espiritual e teológica.

  • De Trinitate – tratado sobre a doutrina da Trindade.

  • De Doctrina Christiana – princípios para a interpretação das Escrituras.

  • De Civitate Dei (A Cidade de Deus) – obra monumental que contrapõe a “Cidade dos homens” à “Cidade de Deus”, enfatizando a soberania divina na história.

  • Enchiridion – resumo de sua teologia.

  • De Haeresibus – catálogo e refutação de heresias.

Sua hermenêutica baseava-se na analogia da fé e numa leitura teológica integral da Bíblia, fundamentos depois valorizados pelos Reformadores.

Herdeiro Espiritual da Reforma

Para os Reformadores como Lutero e Calvino, Agostinho foi um predecessor da doutrina da salvação pela graça mediante a fé (Ef 2.8-9). Sua ênfase na soberania de Deus, na necessidade da graça preveniente, e na total incapacidade do homem para salvar-se por si mesmo, ecoam fortemente na teologia reformada.

“O homem, pela sua própria vontade, não pode viver bem sem Deus” – Agostinho.

No entanto, também é necessário reconhecer suas contribuições problemáticas. Algumas de suas ideias abriram caminho para doutrinas posteriores que o protestantismo rejeita, como a regeneração batismal, o purgatório e uma visão alegórica excessiva em certos textos. Ainda assim, tais desvios não anulam o valor de sua defesa da graça e da fé como fundamentos da salvação.

Seus Últimos Dias e Legado

Durante os últimos meses de vida, Agostinho viu Hipona ser sitiada pelos vândalos. Mesmo enfermo, manteve-se firme na fé, retirando-se para orar e meditar até sua morte, em 430. Sua biblioteca foi preservada e suas obras continuam influenciando gerações.

Através de sua pena, Agostinho deixou à Igreja um tesouro teológico imensurável, não como um “pai espiritual” no sentido romano, mas como um irmão mais velho na fé, um pensador brilhante que buscou a verdade nas Escrituras e testemunhou a glória da graça redentora de Cristo.

“A graça de Deus não encontra homens aptos para a salvação, mas torna-os aptos.” – Agostinho de Hipona.


Que o exemplo de Agostinho nos inspire a amar a verdade, buscar a santidade e viver para a glória de Deus.

Soli Deo Gloria.



Crisóstomo (aprox. 344-407)

João Crisóstomo (c. 344–407) — A Voz Profética do Oriente

🕊️ Parte 8 — Um Pastor contra a Corte

A história da Igreja é marcada não apenas por concílios e imperadores, mas também por vozes solitárias e fiéis que se levantaram para denunciar o pecado, defender os pobres e proclamar a verdade do Evangelho acima do poder humano. Entre esses gigantes da fé, brilha intensamente o nome de João Crisóstomo, o “boca de ouro”, como ficou conhecido por sua eloquência apaixonada e profética.


📍 De Antioquia a Constantinopla

João nasceu por volta de 344 d.C. em Antioquia, uma das grandes cidades do cristianismo primitivo. Criado por sua mãe, viúva piedosa, foi educado nas melhores escolas helenistas, sendo discípulo do famoso retórico Libânio. Sua formação combinava erudição clássica com fervor espiritual.

Ainda jovem, abandonou as glórias da carreira pública para se dedicar à vida ascética e monástica. Após anos de isolamento e oração, foi ordenado sacerdote e começou seu ministério como pregador em Antioquia. Foi ali que ganhou fama de orador fervoroso, sendo mais tarde chamado a ser patriarca (arcebispo) de Constantinopla, a capital imperial do Oriente.


🎙️ A Boca de Ouro que denunciava reis e clérigos

Crisóstomo não pregava para agradar — ele pregava para transformar. Seus sermões em Constantinopla eram raios espirituais contra a ganância, a luxúria e a hipocrisia, tanto do império quanto do clero.

“O templo de ouro e pedras preciosas não é tão agradável a Deus quanto um coração puro e uma vida santa.”
João Crisóstomo

Enquanto os palácios imperiais esbanjavam luxo, Crisóstomo defendia uma igreja voltada aos pobres, uma fé viva, desprendida das vaidades mundanas e com moralidade apostólica.

Seu combate direto contra a opulência da imperatriz Élia Eudóxia, aliada a membros corruptos do clero, resultou em sua perseguição. Foi banido duas vezes e acabou morrendo no exílio, desgastado, mas sem jamais ceder aos homens poderosos.


✝️ Cristianismo versus Poder: o exemplo de Crisóstomo

Crisóstomo viveu em uma época onde o cristianismo já havia sido “abraçado” pelo Império, mas começava a se deformar pela politização da fé. O bispo que um dia seria honrado como santo pelo Oriente e pelo Ocidente, foi perseguido pela própria igreja institucionalizada, que não tolerava a crítica profética.

Seu ministério nos ajuda a entender que a Igreja verdadeira não se mede por catedrais ou cargos, mas por fidelidade ao Evangelho.

“Não tenhas medo do mundo, nem dos ricos e poderosos, pois mesmo se fores banido ou exilado, estarás onde Cristo está.”
João Crisóstomo, ao ser expulso de Constantinopla


🧠 Pensamento e legado

Crisóstomo também foi um grande teólogo e exegeta, comentando livros como Mateus, Romanos, Atos e Gênesis. Sua abordagem bíblica era literal e pastoral, sempre buscando a aplicação prática das Escrituras para o cotidiano da igreja.

Diferente do que seria afirmado séculos depois pela teologia papal, Crisóstomo jamais atribuiu primado universal ao bispo de Roma. Pelo contrário, como os demais padres orientais, via a Igreja como colegiada e espiritualmente unida pela Palavra, não por uma única sede episcopal.


📚 Bibliografia e fontes de apoio

  • João Crisóstomo. Homilias sobre o Evangelho de Mateus, Carta à Olímpia, Homilias sobre Atos dos Apóstolos

  • Justo L. González. A História do Cristianismo – Volume 1

  • Paul Johnson. Uma História do Cristianismo

  • Philip Schaff. History of the Christian Church, Vol. 3

  • Kelly, J. N. D. Golden Mouth: The Story of John Chrysostom

  • Bettenson, H. Documents of the Christian Church


🕯️ Conclusão para o blog

João Crisóstomo nos ensina que a verdadeira igreja de Cristo precisa ter coragem profética, amor pastoral e compromisso com os ensinos de Jesus, ainda que isso custe o conforto e a segurança. Ele foi a voz de Deus em meio à politicagem clerical, um chamado constante à humildade, simplicidade e santidade.

Hoje, em tempos de escândalos, luxos e falsos púlpitos, o exemplo de Crisóstomo nos desafia: estamos servindo a Cristo ou a César? Estamos amando a cruz ou os tronos?